Foi exatamente nessa fase que o Galo mudou a sua história.
O adversário era o Tijuana e lá fomos nós pro México, jogar
na tão falada grama sintética. Gramado estranho, jogadores sem chuteira de
trava, torcida lotando estádio e no fim do primeiro tempo já estava 2x0 para
eles, Victor falhou em um dos gols. Placar inesperado para o melhor time da
competição e que não havia sido derrotado em nenhuma partida importante na
competição. Voltamos para o segundo tempo diferentes, Tardelli e Luan empataram
o jogo, o gol de empate saiu no ultimo lance do jogo. Com o empate, uma vitoria
simples ou empate com menos de 2 gols nos classificaria, eu e a maioria da
torcida estávamos tranquilos quanto a classificação.
Nesse momento o mantra “Caiu no horto, tá morto” já havia se
espalhado e popularizado. Então algum atleticano criativo teve a brilhante
ideia de lançar uma campanha para todos irem ao estádio com a máscara do
pânico, simbolizando a morte, a que todos estavam fadados ao entrar em campo
contra o Galo no Independência. A campanha pegou e no dia do jogo por onde se
andasse em BH via-se aquela máscara. Dentro de campo não era diferente, elas
tomaram conta das arquibancadas e mesmo antes do jogo se ouvia o canto: Caiu no
horto, tá morto! Caiu no horto, tá morto! Caiu no horto, tá morto!
Eu não tinha conseguido ingresso para o jogo, porque não
tinha disponibilidade de ir para a fila e assisti o jogo lá em casa, com
algumas amigas. Até na minha casa tinha uma máscara do pânico. Jogo começou e
com menos de um minuto, na saída de bola, quase sofremos um gol. Ali já vimos
que não era uma partida normal. Pouco tempo depois sofremos o gol, 1x0 para
eles e definitivamente aquele jogo estava estranho. Galo jogando mal, perdendo
em casa, clima pesado, até que em jogada de bola parada Réver faz o gol de
empate. Fim de primeiro tempo e nosso único desejo era que tudo melhorasse na
segunda etapa. 2° tempo morno, de futebol ruim e a única coisa que desejávamos
era o fim do jogo, já que estávamos classificados. Até o momento de que o
árbitro, o sr. Patricio Polic apita e marca pênalti para o Tijuana. Foi o único
pênalti da minha breve história de vida em que não xinguei o juiz. Eu não
conseguia.
Vou contar para vocês qual foi a minha visão e a minha
experiência desse momento.
A minha primeira frase foi: Puta que pariu, é sempre assim
né Galo? Toda vez é isso.
Depois continuei a minha reclamação: Não é possível, eu não
acredito nisso, eu estou cansada disso Galo.
A quantidade de palavrões que disse, não posso nem repetir
aqui.
Até que, a calma voz da Poli, ao meu lado, me disse o seguinte:
Calma, quem sabe não é a hora do Victor se consagrar? Ele vai pegar. Escuta o
que estou lhe dizendo. Aí você para de pegar no pé dele. (Apesar de senti
vergonha disso hoje, eu realmente pegava muito no pé do Victor. Não confiava
nele). Eu nem respondi, tamanha raiva estava no momento.
Uma de minhas amigas que estava assistindo o jogo, escutava
simultaneamente no rádio e eu sempre disse para ela que não era para gritar
antes do gol passar na TV, senão tomaria o fone dela. Mas naquele momento, no
auge do desespero disse a ela: Liu, quando bater, pode falar antes. Vai
amenizar o meu sofrimento.
Abaixei a cabeça e pedi a Deus para o Victor pegar, olhei
para a TV já com os olhos marejados e vi o jogador do Tijuana parado em frente
a bola. Não tive coragem de seguir olhando e abaixei a cabeça novamente, nesse
momento a Liu gritou muito alto o nome do Victor e eu imediatamente me ajoelhei
e chorei muito. Não conseguia nem agradecer naquele momento, eu apenas chorava
e chorava e chorava. A partida terminou e eu não havia visto a defesa ainda,
estava vivendo aquele momento. Fiquei a madrugada inteira acordada, vi e revi a
defesa, ouvi todas as entrevistas, comecei a ouvir as narrações e sempre me
emocionava novamente.
Fato que ocorre até hoje, escrevendo esse texto e me
emocionando novamente. Aquela defesa mudou o Galo de patamar, mudou a nossa
história. Não somos mais o time que sempre perde, mesmo sendo melhor. Não somos
um time azarado. Não somos um time que não ganha copas. Mais do que nunca somos
o Galo Forte e Vingador. E agora temos um Santo, o São Victor do Horto. Aquele 30 de Maio ficará guardado para sempre nos corações alinegros e ano após ano iremos saudar essa data e esse Santo, hoje fazem 4 anos e virão muitos outros e tantas outras homenagens e lembranças.
Um bom livro para quem gosta de saber da história de vários
atleticanos, inclusive a versão do Santo desse momento é “O milagre do Horto”,
de André Fidusi, Fernando Gregori, Frederico Jota.
Até a próxima etapa, daqui para frente é só virada épica!
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